CONTINUAÇÃO: ...
Peço-vos, pois, meus filhos, em nome dos deuses de nossa pátria, que vos respeiteis um ao outro, se desejais agradar-me; porque não penso que tenhais por certo que nada serei, quando tiver deixado de viver. Minha alma tem até agora estado oculta a vossos olhos; mas para as suas operações conhecieis que ela existia. Não tendes notado de que terrores são agitados os homicidas pelas almas dos inucentes que eles mataram, e que vinganças elas tiram destes impios? Penseis que o culto que se tributa aos mortos se teria conservado se se julgassem as suas almas destituidas de poder? E quanto a mim, meus filhos, nunca pude persuadir-me de que a alma, que vive enquanto está unida ao corpo mortal, se aniquila, logo que dele sai, porque vejo que é ela que vivifica estes corpos destrutiveis, enquanto os habita.
Nunca pude tão pouco persuadir-me de que ela perca a sua faculdade de raciocinar no momento em que se separa de um corpo incapaz de raciocinio. É natural crer que a alma, então mais pura, e separada da matéria, goze plenamente da sua intelegência. Quando um homem morre, vêem-se as diferentes partes que o compunham tornarem a jun tar-se aos elementos a que pertencem: só a alma escapa à vista, quer durante a sua estada no corpo, quer depois que o abandona.
Sabeis que é durante o sono, que se vê a imagem da morte, que a alma mais se aproxima da divindade, e que neste estado muitas vezes prevê o futuro, porque, sem dúvida, se acha então inteiramente livre. Ora, se as coisas são como eu penso, e se a alma sobrevive ao corpo, fazei para com a minha o que vos recomendo: se estou enganado, se a alma morre com o corpo, temei ao menos os deuses, que não morrem, que tudo vêem, que tudo podem, que conservam no universo essa ordem imut´~avel, inalterável, cuja magnificência e majestade são superiores a toda a expressão. Este temor vos livre de qualquer ação, de qualquer pensamento que fira a piedade ou justiça. Depois dos deuses, temei os homens e a posteridade.
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