segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O HORIZONTE


O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendada a noite e a correção,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o longe, e o sul sidério
Explêndia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves e flores
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da verdade.
     de      Fernando Pessoa
                       dcb 
  

  

Sem comentários:

Enviar um comentário